Bombeiros em marcha pacífica para deixar "presentes envenenados" à porta do Parlamento

por Joana Raposo Santos - RTP
Além desta marcha simbólica, que marca o impasse negocial, os sapadores têm manifestação nacional e greve marcadas para 15 de janeiro. Filipe Amorim - Lusa

Com gorros pretos de pai Natal na cabeça e embrulhos nos braços, mais de uma centena de bombeiros sapadores marcharam esta segunda-feira desde a Câmara de Lisboa até à Assembleia da República, deixando em ambos os locais aquilo a que chamaram "presentes envenenados". Estes profissionais exigem que o Executivo melhore a proposta sobre a carreira e os salários.

“É como se fosse uma sátira. O que está ali representado é as propostas que o Governo nos deu, que são presentes envenenados”, explicou à RTP um dos participantes.

“Vamos desejar aqui umas boas festas a todos, inclusive aos membros do Governo, e desejar que se calhar para o ano comecem a dizer efetivamente as propostas que apresentam”, disse, através de um megafone, um elemento sindical.

Garantiu ainda que “para o ano, se o Governo não se chegar à frente”, os bombeiros vão avançar com novas formas de luta, apesar de assegurarem o socorro de modo a que este nunca fique comprometido.

À RTP, disse que a revisão da carreira é “completamente necessária” para que a profissão volte a ser “o que era há uns anos, que para 80 vagas por exemplo em Lisboa, concorriam mil ou dois mil homens”.

“Neste momento, está a decorrer uma recruta e estão lá 54 elementos quando pretendiam ter 60. A profissão tornou-se desinteressante”, explicou.
Na quinta-feira, o Governo enviou uma carta a quatro sindicatos a indicar que até ao final do ano irá chamá-los para uma reunião negocial.

Ainda assim, além desta marcha simbólica, que marca o impasse negocial, os sapadores têm manifestação nacional e greve marcadas para 15 de janeiro.

“Isto é simbólico e também é para lembrar o Governo para não nos esquecer da nossa causa, da nossa luta. É por esse motivo que nós estamos aqui (…) e não vamos desistir daquilo que estamos a reivindicar”, disse um bombeiro.
“A bola está do lado do Governo”
Outro dos presentes relembrou que “os bombeiros estão há 22 anos à espera” e criticou a demora do Executivo.

“O Governo anunciou publicamente que até ao final do ano tinha a carreira dos bombeiros sapadores revista. Ainda não passámos do ponto número um. Portanto a bola está do lado do Governo”, afirmou.

Sobre a manifestação do início do mês, que levou o Executivo a suspender as negociações com a classe, acusando os bombeiros de estarem a fazer pressão ilegítima após um protesto que incluiu petardos junto à sede do Governo, este profissional desvalorizou as críticas.

“Tentou-se passar para a opinião pública a imagem de que a culpa era dos bombeiros porque fizeram um bocadinho mais de barulho. Nós somos um país que até fez uma revolução com cravos, não estamos habituados ao barulho e, quando alguém se manifesta mais ruidoso, são apelidados de arruaceiros, bandidos e outras coisas”, vincou.

Este elemento acrescentou que as condições dos sapadores “são públicas e conhecidas, portanto cabe ao Governo dar o passo em frente”, sendo que se “o Governo vier com seriedade, com datas e com propostas” não será preciso “fazer manifestação nenhuma”.

“O Governo, se vier com propostas sérias, que realmente valorizem a nossa carreira, nós estamos cá para negociar. Aliás, vemos que o Governo com outras carreiras negociou rápido. Só com os bombeiros sapadores é que este processo se está a arrastar. A culpa é toda nossa? Certamente que não é”.
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